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A Cas'Amarela

Daqui vê-se tudo!

A Cas'Amarela

Daqui vê-se tudo!

Rosinha

24.07.09, A casamarela

Se o “Flores” lançou o hit deste Verão “O Pai da criança dos Chave D’ouro” eu avanço com “Rosinha – eu levo no pacote”. Mas não estou a ver o pessoal a dizer... "Ó Graciano toca o… eu levo no pacote".

Os salteadores das caixas perdidas

02.07.09, A casamarela

Duarte, de seis anos, já encontrou 1389 caches com a família Daniel Oliveira faz geocaching todos os fins-de-semana com os filhos e não tem medo de meter a mão em buracos Há 4700 caches espalhadas por todo o país; podem estar coladas a pedras ou dentro de troncos

O plano era simples e não podia falhar. Para encontrar o tesouro, Gustavo Vidal e a família tinham de ir disfarçados de turistas ingleses. Chegaram ao Largo do Chiado, em Lisboa, por volta das 15 horas e aproximaram-se da estátua de Fernando Pessoa, sem levantar suspeitas.

Enquanto conversavam em inglês, abriram um mapa da cidade e puseram-no em cima da mesa do poeta. Tinham pouco mais de 40 segundos antes que aparecesse algum empregado do café Brasileira. Gustavo, a mulher, Elsa, e o filho, Hugo, usaram o mapa como disfarce para procurarem debaixo da mesa. Entre pastilhas elásticas e muito pó, encontraram uma caixa de um rolo fotográfico. Abriram-na e assinaram o livro de registos. Missão cumprida.

"Temos de ser discretos, senão podem pensar que estamos ali para pôr uma bomba ou destruir alguma coisa", diz Gustavo. Mas afinal, por que razão procurava esta família um rolo fotográfico?

Gustavo, Elsa e Hugo são geocachers, ou seja, praticantes de um novo jogo de caça ao tesouro, que tem mais de 4 mil participantes em Portugal e quase 814 mil no mundo. O objectivo do geocaching, criado em 2000 pelo americano Dave Ulmer, é, usando um GPS, encontrar caches - os tesouros do jogo, que podem ser caixas tão pequenas como um rolo fotográfico de 35 milímetros ou bidões de 75 litros. Por cá, há cerca de 4700 tesouros escondidos por todo o país. Embora isso seja raro, já houve caches roubadas, mas até à data não ultrapassaram as 40.

Jogo de espiões Dentro das caches há sempre um livro de registos, onde todos os geocachers têm de deixar uma mensagem e alguns presentes, como canetas ou brinquedos. Os tesouros podem estar escondidos em locais tão comuns como o Largo do Chiado, ou noutros mais invulgares, como a ilha do Rato, no meio do rio Tejo.

Quem as esconde são outros geocachers. Introduzem as coordenadas no site www.geocaching.com e depois escrevem as direcções no GPS e começam a caçada. "É um jogo familiar muito divertido, que exige inteligência e nos permite conhecer locais lindos. Nem temos medo de meter as mãos em buracos escuros porque encontrar o tesouro vale tudo", explica Gustavo.

O empresário, de 39 anos, faz questão de ler sempre o livro de registos. "Até já encontrei textos de holandeses. Parecemos uma comunidade secreta de espiões." Gustavo Vidal é o português com mais caches descobertas. Em dois anos e meio descobriu mais de 2830. Começou pelos tesouros perto de sua casa, no bairro lisboeta de Campo de Ourique, e passado um mês já estava a escalar paredes de dez metros.

O tesouro mais interessante que encontrou foi o da praia da Cordoama, perto de Sagres. "Para lá chegarmos tivemos de percorrer um trilho numa falésia com 70 metros de altura", recorda Gustavo. O seu filho, Hugo, de 12 anos, também se juntou à caçada. "Seria incapaz de andar naquele trilho se não fosse pela cache. Mas ultrapassar os nossos limites é uma óptima sensação. Penso sempre que se alguém a colocou ali também hei-de conseguir ir lá."

Para Gustavo, ser geocacher é um passatempo quase diário. "Costumo procurar à hora de almoço. Depois de remexer em caixotes do lixo e ervas, só tenho tempo de lavar a cara e correr para as reuniões." O geólogo Daniel Oliveira também costuma usar a hora do almoço para fazer caçadas, mas a sua mulher, Gina, prefere ir aos fins-de-semana. "É uma forma de arrancar os miúdos da frente da televisão e de visitar novos locais", diz a farmacêutica. Quase todos os sábados a família Oliveira sai em busca de novas caches. Já encontraram 1389.

Esta semana não foi excepção. São 15h30 quando Daniel Oliveira estaciona o carro em frente do Forte dos Oitavos, em Cascais. Porém, ao contrário do que seria de esperar, Daniel, Gina, Roger e Duarte não entram no forte. Ficam à porta, lêem a placa em voz alta, apontam uns números e começam a andar em direcção às rochas. Estão à procura de uma multicache, ou seja, primeiro têm de encontrar uma pista que os encaminhe (neste caso, a pista era a data de construção do forte, que lhes indicava as coordenadas do local do tesouro).

Roger, de 11 anos, agarra no GPS e lidera a equipa. "O mais importante é procurar algo fora do normal. Uma pedra mexida e vegetação partida são boas pistas", explica o pai. Passados 15 minutos, a criança descobre uma pedra mais leve que o normal. Por baixo está uma caixa de plástico com a cache. "Prendas", grita David, de seis anos. É a Diamantino Azevedo, de 52 anos, que a criança pode agradecer muitas das caches que já encontrou. O estatístico, de 52 anos, foi um dos primeiros portugueses a fazer geocaching e tem 500 caixas descobertas no seu currículo. Mas o que lhe dá mais gozo é inventar caches.

O mais procurado O tesouro "4 elementos" foi um dos mais falados. Para o encontrar, os geocachers tiveram de recolher pistas em vários pontos de Lisboa, que correspondiam aos quatro elementos - fogo, terra, ar e água.

Como Diamantino Azevedo leva o jogo muito a sério, andou a pintar pistas no passeio do Terreiro do Paço, do Convento do Carmo e até no Aeroporto da Portela. Foi precisa alguma coragem para parar o carro num local proibido, mesmo em frente à entrada do aeroporto, pegar numa lata de tinta, num pincel e pintar uma mensagem no passeio.

"Foi uma cache muito interessante e valeu a pena. Mas pensei que ia ser apanhado pela polícia." O tesouro já não está activo, mas Diamantino tem várias ideias para fazer caches ainda mais complicadas.

 

por Vanda Marques (ionline.pt), Publicado em 02 de Junho de 2009